julho 11, 2006

Sete Palmos de Terra


Passou ontem, no canal 2, o último episódio de uma das minhas séries televisivas de eleição, “Sete Palmos de Terra”.
Sentadas na escada da casa da família Fisher, Brenda e Ruth, ainda enlutadas pela perda de Nate (marido da primeira e primogénito da segunda), conversavam sobre o quão solitário é o acto da maternidade. Brenda, que tivera uma filha nascida postumamente, acaba por ser consolada por Ruth, que apesar de ter tido três filhos com a presença física do marido na família, confessou que ele nunca fora um pai presente e que sempre se sentira sozinha. Face à sinceridade e partilha inesperada vinda da sogra, Brenda confessa-se também e dá-lhe a entender que, ainda estando Nate no quarto do hospital onde viria a morrer nesse dia, ele pusera fim à relação deles. Ruth diz-lhe que sabia disso e acrescenta: “Tenho a certeza que o Nate te amou o melhor que soube… mas também sei que isso não era o suficiente para ti, para seres feliz…”.
Não poderia ser melhor dito: o melhor dos outros não obedece a uma medida padrão que se torna automaticamente o melhor para nós. Pelo contrário. Somos feitos de medidas individualizadas, vagamente preenchidas ou frustradas, mediante as quais, por vezes, baixamos os braços e nos conformamos. O problema é que a conformação não nos garante absolutamente nada a não ser uma ilusão de felicidade a prazo, o prolongamento de um estado apático em nós que, a pouco e pouco, contamina tudo o resto, uma negação daquilo que somos e do que realmente precisamos. O melhor para nós nunca poderá ser, por isso, uma medida resignada à medida dos outros, do melhor que eles têm para nos dar. Esse melhor, por vezes, simplesmente não chega. Que os percalços da vida nunca nos façam esquecer isto. B.

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