setembro 15, 2006

Como se criam raízes

Quando regressei a este lado, além do Tejo, há cerca de ano e meio, uma das pessoas com quem travei logo de início uma saudável relação, foi um vizinho da terra, septuagenário. Nas nossas conversas havia sempre uma história ou outra que ele fazia questão de me contar sobre raparigas novas que, pelas mais diversas razões, vinham para estas bandas e acabavam por aqui ficar como resultado ou consequência de uma história de amor que por aqui iniciavam... À parte da dimensão romântica dessas histórias dos outros, eu sabia que no fundo estava a ser testada sobre a minha avaliação de estar por cá e, principalmente, sobre a minha vontade de cá permanecer. Lembro-me de uma conversa em particular em que, num desses fins-de-semana com feriado ou vice-versa, ele questionou-me se ficava ou se ia passar esses dias a Lisboa. Respondi-lhe que ficava ao que ele ripostou, com um certo tom de ameaça e quase parecendo incrédulo com a minha opção "Qualquer dia ainda se torna uma alentejana a séria...". Eu ri-me e respondi-lhe "Olhe, sabe que mais? Deus queira que sim...". Já a afastar-me no caminho, ficou-me na memória o semblante misto de surpresa e de satisfação na cara dele.
Ultimamente, via-o sentado à sombra num dos bancos da rua, junto a outros companheiros de geração, e tornou-se um hábito diário, passar por ele de carro, acenar-lhe e desacelerar para que ele me reconhecesse e correspondesse no gesto.
Soube hoje que faleceu ontem. Hoje sinto-me triste. B.

1 comentário:

  1. Triste porquê?
    Pareceu-me que apesar de ter deixado esta vida terrena, ele continuará bem em ti...

    1 beijo e 1 s
    sorriso

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